terça-feira, 11 de agosto de 2009

Marina candidata é factóide

Mesmo com a alternativa Marina Silva, agora colocada no tabuleiro das eleições presidenciais, confirma-se o que já se anunciava quando apenas Serra e Dilma eram candidatos quase declarados. Em termos de modelo econômico, ainda não há no horizonte dos/as postulantes à Presidência qualquer um/a que defenda algo diferente do sistema econômico primário-exportador que sempre caracterizou a inserção subordinada da economia brasileira no sistema mundo.

Marina terminou seu ministeriado concordando com causas que inicialmente rejeitava com veemência – como a convivência entre soja transgênica e não transgênica, a transposição do São Francisco e as usinas no rio Madeira - e, a rigor, só ganhou a projeção que tem por ser herdeira simbólica de Chico Mendes e não por defender uma alternativa ecologicamente viável para o País em seu todo.

Nesse contexto, a esquisita candidatura Marina pelo Partido Verde legenda que ora se liga ao ex-prefeito do Rio César Maia, ora ocupa o Ministério da Cultura no governo lulista - é apenas mais do mesmo, embora com toques de dignidade pessoal da postulante. Porém, na prática, Marina candidata a presidenta é apenas o primeiro grande factóide de 2010. Faz muito bem à até aqui incerta estratégia política da candidatura Dilma, à qual se aliaria, sem qualquer dúvida, em um eventual segundo turno contra Serra, e não constitui um polo de alternativas para o País.

Ou alguém imagina que Marina no PV, sem qualquer estrutura partidária nem movimento social que lhe sustente, conseguiria vencer Dilma e Serra, dois candidatos muito bem alicerçados, respectivamente, na máquina do governo federal e no capital industrial e financeiro sediado em São Paulo?
Mais: alguém poderia supor que, se realmente conseguisse levar no primeiro turno os tais 14% de votos que o PV diz que ela tem, Marina fecharia não com Dilma, candidata do partido que a acreana ajudou a fundar, mas com o tucano Serra? A não ser que uma tsunami nos atinja, em um segundo turno, Marina carrearia votos para Dilma, com quem teve divergências somente de procedimento e não de conteúdo.

Só para ficar em três exemplos da convergência entre as visões "ecologicamente sustentáveis" de Marina e obreirista de Dilma:

1. Como Ministra do Meio Ambiente, Marina nunca admitiu o óbvio: as usinas Jirau e Santo Antônio, que estão barrando o rio Madeira (RO), são inviáveis do ponto de vista legal e ecológico e dispensáveis do ponto de vista energético. São caríssimas e jogam o BNDES, seu principal financiador, em um enorme risco político. Contra Dilma e Lula, Marina apenas defendeu o rito legal para concessão das licenças ambientais, que acabaram sendo emitidas após a presidência do Ibama ter desconsiderado a posição em contrário dos técnicos do próprio órgão. A ex-Ministra nunca abordou publicamente os problemas estruturais dos projetos nem os danos que eles já estão causando à toda bacia do Madeira e aos milhares de ribeirinhos que ali residem há décadas;

2. Antes uma fervorosa opositora da transposição do rio São Francisco, obra com a qual Lula quer marcar seu bimandato, Marina passou a defender a obra faraônica em público, mesmo na presença de ambientalistas e membros dos movimentos sociais que em tese seriam seus aliados na luta contra a o desvio das águas;

3. Finda sua passagem pelo governo, em 2008, passou a considerar tecnicamente possível a convivência entre soja transgênica e não transgênica, o que contraria as ponderações sobre a mais absoluta incerteza científica quanto à segurança de commodities geneticamente modificadas. Como senadora, ela própria usou esses argumentos no Projeto de Lei 216/1999, de sua autoria, que propõe cinco anos de moratória para os transgênicos no Brasil.

Uma candidatura para não vencer, como essa, apenas traria ganhos a seus propositores. Primeiro, para Marina, que perdeu espaço na política interna do PT nacional e acreano; e para o PV, que talvez levasse mais um ministério. Mas, o Brasil, que deveria estar no centro das atenções de qualquer candidatura, permaneceria rigorosamente do mesmo jeito que está.

Carlos Tautz é jornalista

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